Análise
por Andreia Lobo
19 de novembro de 2020 |
A crise suscitada pelo covid-19 não parou a educação na União Europeia. Alguns países conseguiram manter reformas ambiciosas iniciadas antes da pandemia, outros perceberam que eram precisas mudanças a vários níveis. Quase todos os sistemas educativos reconhecem agora como prioridade a promoção de competências digitais. Menos certo será o montante de investimento que os Estados-membros poderão direcionar para esta área.
Com o confinamento e o encerramento das escolas, a continuidade das aulas fez-se a diversos ritmos. O nível de competências digitais, anterior ao aparecimento da pandemia, foi decisivo na forma como alunos e professores lidaram com o ensino à distância. Apesar das medidas postas em curso para mitigar o impacto da covid-19 no ensino, as desigualdades educativas pré-existentes agravaram-se nestes últimos meses. A falta de recursos digitais, em alguns casos, pôs em causa a igualdade de acesso à educação de qualidade.
No relatório “Education and Training Monitor 2020”, divulgado a 12 de novembro, a Comissão Europeia analisa os desafios colocados aos sistemas educativos europeus neste ano “sem precedentes”. O EDULOG traz-lhe umasíntese das evidências e advertências dirigidas aos 27 Estados-membros.
Alemanha
Persistem lacunas na infraestrutura digital das escolas e nas competências digitais dos professores, apesar dos fortes investimentos do designado Pacto Digital. Os jovens de meios desfavorecidos e migrantes continuam a ficar para trás na escolaridade, uma situação agravada com a pandemia.
Áustria
Está neste momento a rever as suas políticas educativas, incluindo algumas das reformas anteriores. A prioridade do Governo e agentes educativos é melhorar as competências digitais em todos os níveis de escolaridade.
Bélgica
A comunidade flamenga está a implementar uma reforma no ensino obrigatório. A crise covid-19 evidenciou a necessidade urgente de desenvolver a literacia digital na comunidade francesa. O confinamento agravou o “fosso digital” em todas as comunidades.
Bulgária
A mudança para o ensino à distância causou grandes perturbações no sistema educativo. Apesar do esforço governamental para melhorar o baixo nível de competências digitais, faltam equipamentos e professores aptos a usá-los nas escolas.
Chipre
O ensino à distância tornou evidentes várias lacunas. O país direciona agora as suas políticas educativas para melhorar a implementação do ensino digital. Mas é preciso resolver o problema do insucesso e melhorar o bem-estar dos alunos nas escolas.
Croácia
O ensino digital tem-se desenvolvido de forma rápida na Croácia, o que permitiu uma resposta eficaz à crise desencadeada pela pandemia. Neste momento, o país está a criar novas diretrizes para o ensino profissional, sendo que a empregabilidade destes alunos está a aumentar.
República Checa
O ensino à distância foi configurado de forma rápida e eficiente, mas também tornou visíveis lacunas existentes. Os alunos mantêm um bom desempenho geral, mas as desigualdades socioeconómicas são significativas.
Dinamarca
O país investe bastante na qualificação e requalificação e aumentou muito a participação dos adultos em formação e educação. Alunos, professores e escolas lidaram bem com o ensino à distância porque o ensino digital estava já bem desenvolvido antes da pandemia.
Eslováquia
A digitalização do ensino tem recebido bastante atenção política, mas o confinamento dificultou a igualdade de acesso à educação de qualidade, sobretudo pela falta de recursos digitais adequados. Os testes do PISA mostram fracos resultados, num país que investe pouco na educação.
Eslovénia
Os investimentos estimulados pela pandemia covid-19 estão a ser bem direcionados. Os alunos apresentam desempenhos acima da média da União Europeia nas três áreas testadas pelo PISA, embora os resultados obtidos em ciências e leitura tenham piorado.
Espanha
As escolas estão bem equipadas com infraestruturas e ferramentas digitais, mas os professores precisam de melhorar as competências nesta área. O país tem em curso uma reforma profunda da lei de base da educação cujo sucesso depende de um consenso social e político.
Estónia
As ferramentas digitais são parte integrante do ensino e da aprendizagem na Estónia. O constante
o foco no ensino digital permitiu uma mudança bastante rápida para o ensino à distância em reação à covid-19.
Finlândia
O ensino digital está bem desenvolvido, além disso, a Finlândia conta com professores altamente qualificados e boas infraestruturas ao nível das tecnologias digitais nas escolas. Isto permitiu às escolas gerir com sucesso a crise covid-19 na educação.
França
O país prossegue várias reformas no pré-escolar e no ensino primário para reduzir as desigualdades e aumentar o sucesso educativo. Decorre ainda uma reforma no ensino profissional. A crise tem suscitado uma série de medidas visando o aumento das competências digitais e a inovação.
Grécia
O ensino digital tornou-se um objetivo político na Grécia. Durante o confinamento devido à covid-19 o país deu passos decisivos para direcionar o ensino para o formato online, mas também enfrentou desafios ao nível do acesso e implementação de práticas.
Hungria
O país tem de investir mais no ensino digital para aumentar as competências digitais dos alunos e da população em geral. O sistema educativo continua a registar elevadas taxas de abandono escolar precoce. A nova lei do ensino profissional introduz mais oportunidades para os alunos.
Irlanda
Cresce a atenção curricular às competências digitais, mas as aprendizagens no âmbito do ensino digital carecem de linhas orientadoras mais claras. Apesar do aumento do financiamento público no ensino básico, secundário e superior, prevê-se que a crise covid-19 inverta este cenário.
Itália
Durante a crise covid-19, a maioria das escolas foi capaz de implementar ensino à distância num prazo muito curto, mas são necessários esforços para incluir alunos mais vulneráveis e aumentar a
qualidade deste ensino.
Letónia
O ensino digital é um compromisso forte no sistema educativo. Escolas e alunos adaptaram-se de forma rápida e eficaz à mudança forçada para ensino à distância. Espera-se que as reformas em curso em todos os níveis de ensino melhorem a qualidade e a eficiência da educação.
Lituânia
Estão a ser feitos esforços para nutrir competências digitais nas crianças desde a infância. Mas o uso efetivo de tecnologias da informação e comunicação na prática letiva só será possível se for dada formação contínua aos professores nesta área.
Luxemburgo
Recentemente, o país focou as suas políticas educativas na promoção do ensino digital. Com uma população escolar altamente diversificada, o sistema educativo ainda conta com uma grande percentagem de alunos com fracos desempenhos.
Malta
Continua a ser prioritário lidar com o elevado insucesso e o abandono escolar precoce, dando mais atenção ao bem-estar e às aprendizagens dos alunos. No entanto, a crise covid-19 atrasou a implementação de reformas dirigidas a essas prioridades.
Holanda
As competências digitais e a participação de escolas na promoção do ensino digital estão acima da média da União Europeia. No entanto, houve um declínio nas competências básicas dos alunos e as diferenças ao nível do desempenho entre escolas continuam elevadas.
Polónia
As competências digitais dos adultos são baixas e a educação e formação de adultos permanece limitada. Mesmo assim, a Polónia atingiu a meta educativa para 2020 nas áreas da leitura, matemática e ciência e consegue uma boa frequência no ensino superior.
Portugal
As competências digitais da população estão a melhorar, mas permanecem abaixo da média da União Europeia. Os professores precisam de mais formação na área das tecnologias digitais e as escolas precisam de melhores infraestruturas e equipamentos.
Roménia
O contexto socioeconómico afeta significativamente o desempenho dos alunos e limita o papel de equalizador de oportunidades da educação. A mudança para o ensino à distância corre o risco de piorar as já elevadas desigualdades.
Suécia
O investimento em educação é elevado e muitas reformas estão a ser planeadas. As escolas são muito bem equipadas do ponto de vista tecnológico, os alunos têm boas competências digitais, mas os professores precisam de mais formação.