Análise
por EDULOG
29 de março de 2016 |
“Os alunos que não conseguirem navegar no complexo mundo digital não vão conseguir participar plenamente na vida económica, social e cultural que os rodeia.” O repto consta do relatório “Students, Computers and Learning: Making The Connection”, publicado em 2015 pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Os responsáveis pela educação dos alunos conectados de hoje devem educar as crianças para serem “consumidores críticos da Internet” e conhecedores dos riscos inerentes à utilização das novas tecnologias: excesso de informação, plágio, fraude, ou bullying, exemplifica a OCDE.
Pela primeira vez, um relatório fornece uma análise comparativa das competências digitais dos alunos de 15 anos que em 2012 participaram no PISA (Programme for International Student Assessment). Em 2012, 96% dos alunos dos 64 países ou economias parceiras da OCDE diziam ter computador em casa, mas apenas 72% usava computador, portátil ou tablet na escola, em alguns países menos de um em cada dois alunos dizia usar o computador na escola.
Nas salas de aula onde existem computadores, o impacto da sua utilização no aproveitamento dos alunos é misto. Mostram melhores resultados os alunos que usam o computador de forma moderada, comparados com os que raramente usam. Mas os entre os que usam o computador com muita frequência na escola os resultados são muito piores.
Os resultados desta análise mostraram não existir melhorias significativas ao nível da leitura, matemática e ciência – áreas avaliadas pelos testes do PISA – nos países que mais investiram nas TIC para a educação. Mas “a descoberta mais desapontante”, lê-se no documento, é a de que “a tecnologia pouco ajuda a fazer a ponte entre as competências que separam os alunos economicamente mais e menos favorecidos”.
Noutras palavras, “garantir que cada criança tenha acesso a um nível básico de literacia na leitura e na matemática, parece fazer mais pela criação de oportunidades iguais no mundo digital do que pode ser alcançado através da expansão do acesso a equipamentos e serviços tecnológicos”, diz a OCDE.
De 2009 a 2012, o número de computadores em casa dos alunos que participaram no PISA aumentou em 49 dos 63 países e economias com ligação à OCDE. Em média os alunos passam duas horas por dia online. A fazer o quê? A atividade mais comum é “navegar por diversão”, respondem 88% dos inquiridos - 6% mais que em 2009 - que se divertem na net pelo menos uma vez por semana.
Da análise de como os alunos usam os computadores e a Internet em casa, a OCDE concluiu que os que passam mais de seis horas por semana online, fora da escola, correm maior risco de se sentirem sozinhos, chegar tarde à escola ou faltar.
Em média, apenas 4% dos alunos de 15 anos não tem computador em casa; 43% tem três ou mais computadores em casa. No entanto, alerta a OCDE “existem ainda grandes disparidades ao nível nacional” entre os países da OCDE. Por exemplo: 42% dos alunos no México e 29% dos alunos na Turquia não têm computador em casa. Entre as economias parceiras da OCDE, 74% dos alunos na Indonésia e 61% no Vietname também não. Pelo contrário, em países como a Dinamarca, Islândia, Holanda, Noruega e Suécia, menos de 1% dos alunos de 15 anos diz não ter computador em casa.
No que diz respeito ao acesso à Internet em média os primeiros contactos dão-se por volta dos cinco anos. Cerca de 57% dos estudantes tinha menos de 10 anos quando navegou pela primeira vez, e com essa idade, 76% dos alunos já usava o computador. Na Dinamarca e na Holanda, mais de 30% dos alunos teve acesso antes dos sete anos, ao passo que na Jordânia, Rússia e Sérvia mais de 30% dos alunos teve de esperar pelos 13 anos para experimentar a Internet.
Em todos os países da OCDE, os computadores são mais usados para navegar pela Internet. Cerca de 88% dos alunos navega para se divertir, pelo menos uma vez por semana. Seguem-se outros afazeres: 83% participa em redes sociais, 70% faz downloads de músicas, filmes, jogos ou software, a partir da Internet, e 69% conversa online. Mais de um em cada dois alunos, 66% diz usar a Internet - pelo menos semanalmente - para obter informações práticas, 64% para ler ou enviar emails, 63% para ler as notícias.
Dois em cada cinco alunos, 40% diz usar o computador para jogos de um só utilizador, enquanto 36% se envolve em jogos colaborativos online. Apenas 31% dos alunos utiliza o computador pelo menos uma vez por semana para fazer o upload dos seus próprios conteúdos, tais como: música, poesia, vídeos ou programas.
Entre as atividades listadas nos questionários de 2009 e 2012 dirigidos aos alunos, os investigadores notaram uma diminuição do uso do email e do chat. Provavelmente, fruto da utilização das redes sociais para o envio de mensagens. Diminuiu também a participação em jogos de um só utilizador, facto que os investigadores atribuem ao aumento significativo da oferta de jogos colaborativos online. Por outro lado, a percentagem de alunos que frequentemente navega na Internet por lazer ou para fazer downloads de músicas, filmes, jogos ou software, aumentou de forma significativa.
Mais uma vez, refere a OCDE, as tendências de utilização dos computadores e da Internet sofrem mais variações entre países e economias parceiras. Por exemplo, entre os estudantes de 15 anos do Japão, 79% usam o email e apenas 43% as redes sociais; os jogos de computador são mais populares na Sérvia do que em qualquer outro país da OCDE, sendo que neste país há mais alunos a usar o computador para jogar - sozinhos ou de forma colaborativa online - do que para enviar emails.
Mais de 80% dos alunos na República Checa, Hungria, Letónia e Rússia usam o computador para fazer o download de músicas, filmes, jogos ou software a partir da Internet. No caso de Hong-Kong (China), Coreia, Macau (China) e Singapura a percentagem de estudantes que regularmente usava o computador para os jogos diminuiu de forma muito mais célere do que nos restantes países da OCDE.
Seja qual for o uso dado ao computador, os dados obtidos através do PISA mostram que “os excessivos utilizadores da Internet correm mais risco de se envolverem menos na escola”. A análise da assiduidade nas duas semanas anteriores à realização dos testes do PISA mostra que 32% dos alunos que tinham estado menos de uma hora por dia online durante a semana, chegaram atrasados à escola, enquanto entre os alunos que passaram mais de seis horas ligados à Internet a percentagem subia para os 45%.