Estudos

Educação, tecnologia e salários nos EUA

por EDULOG


29 de março de 2016 |

A evolução tecnológica cria crescimento económico, mas também tensão social ao gerar ganhos e perdas nas remunerações dos mais e dos menos qualificados. É o que mostra uma pesquisa realizada pelos investigadores norte-americanos Claudia Goldin e Lawrence F. Katz, da Universidade de Harvard, em Cambridge.

Se os trabalhadores têm competências flexíveis e o sistema educativo se expande o suficiente, a oferta dessas mesmas competências vai aumentar em resposta ao aumento da procura. O crescimento do número de trabalhadores qualificados ajuda a equilibrar os salários pagos por essas competências e a corrida entre educação e tecnologia não terá vencedores nem vencidos. Lê-se no artigo “The Race between Education and Technology: The Evolution of U.S. Educational Wage Differentials, 1890 to 2005”, publicado em 2007 por Claudia Goldin e Lawrence F. Katz.

Através de um olhar sobre a realidade económica, social e educativa dos EUA dos últimos três séculos, os investigadores perceberam que o aumento da oferta de trabalhadores qualificados, originada por um movimento massivo de escolarização ao nível do ensino secundário registado em 1910, teve um papel determinante no equilíbrio das variações salariais dos diplomados dos diferentes graus de ensino de 1915 a 1980.

Do mesmo modo, a desaceleração no crescimento da oferta de trabalhadores com formação superior, iniciada na década de 80, foi a principal razão para o súbito aumento das remunerações dos licenciados no período de 1980 a 2005.

Alguns fatores externos podem alterar a balança da oferta e da procura de competências. A imigração de trabalhadores desproporcionalmente localizados no último patamar da escala de competências pode afetar os ganhos dos seus substitutos mais próximos.

A balança da oferta e da procura

Um trabalhador qualificado tem expectativas altas quanto ao retorno salarial que o mercado de trabalho pagará pelas suas qualificações. Goldin e Katz que a remuneração da competência tem vindo a descer dos elevados níveis registados no final do século XIX. Na década de 1960, os frutos do rápido crescimento económico dos Estados Unidos eram partilhados equitativamente ao longo da escala de remunerações. A história inverte-se abruptamente no final de 1970 e início de 1980, um período de pouca produtividade.

No que toca aos salários dos licenciados, de 1915 a 2005 a remuneração permanecia igual, correspondendo a um período de equilíbrio entre a oferta e procura de competências. Uma análise detalhada dos subperíodos de 1915 a 1980 mostra, no entanto, como a educação correu muito à frente da tecnologia, o que contribuiu para reduzir as remunerações das competências.

De 1915 a 1940 a oferta de qualificações superou a procura por 1,41 vezes (3,19 contra 2,27); de 1940 a 1960 fê-lo por 1,47 vezes (2,63 contra 1,79). Nos dois períodos a oferta aumentou em cerca de 1% por ano a mais do que procura. Muitas foram as razões para o impulso, incluindo o movimento de expansão da escola secundária na era pré-1940 e o aumento da frequência no ensino superior no período pós-Segunda Guerra Mundial.

Mas um grande volte-face ocorre por volta de 1980. Se a oferta de trabalhadores universitários tivesse aumentado entre 1980 e 2005 com a mesma velocidade que o tinha feito entre 1960 e 1980, as remunerações dos licenciados, em vez de subir, teriam caído. A corrida teria sido perdida para a tecnologia.

Olhando para as remunerações dos diplomados com o ensino secundário, os investigadores descobriram que entre 1915 e 1940 a oferta correu à frente da procura, mais uma vez em cerca de 1% ao ano (5,54 contra 4,79) e consideravelmente mais entre 1940 e 1960 (3,55 contra 1,79). O rápido aumento de trabalhadores com o 12.º ano contribuiu para baixar drasticamente as suas remunerações no período pré-1950.

Oferta de qualificações e imigração

Os investigadores questionaram-se sobre as mudanças encontradas na oferta: Teriam sido causadas pela imigração e não pela educação? Dentro do período de tempo estudado, a questão ganha maior relevância nos anos mais recuados, quando a imigração era elevada e, em seguida, restrita; mas também no período mais recente, quando a imigração volta a subir. Note-se que entre 1890 e 1910, os imigrantes representavam 22% da força de trabalho dos EUA.

Durante o período crítico de 1980 a 2005, quando os salários dos licenciados aumentaram surpreendentemente em 23%, a imigração foi apenas responsável por 10% desse aumento. A maior fatia deveu-se, em vez disso, ao abrandamento da frequência no ensino superior entre a população nascida nos EUA. Por outro lado, a imigração foi mais importante para o declínio registado no final da escala da distribuição de competências. Mas mesmo nesse cálculo, o abrandamento educacional entre os nascidos nos EUA foi quantitativamente mais determinante.

No início do século, a expansão registada no ensino secundário era consideravelmente mais importante do que as restrições da imigração para a redução da remuneração das competências. Tivesse a imigração permanecido ao elevado nível registado no início do século XX e tendo a expansão da escolaridade ocorrido como o fez, a oferta trabalhadores qualificados teria crescido 95% acima sua taxa real de 1910 a 1930.

Goldin e Katz descobriram ainda descontinuidades importantes entre a estrutura salarial e os retornos das competências. A maior parte do estreitamento dos diferenciais salariais, por exemplo, ocorre na década de 1910 e 1940, períodos próximos ou coincidentes com as duas guerras mundiais. Tempos caraterizados por um aumento da procura de trabalhadores menos qualificados, forte inovação e atividade sindical.

Quando se trata de mudanças na estrutura salarial e na remuneração das competências, alterações na oferta são críticas e as mudanças de educação são, de longe, o mais importante do lado da oferta. Tal como aconteceu nos primeiros anos do período estudado em que a expansão do ensino secundário fez dos americanos trabalhadores qualificados e nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, quando os diplomados do ensino secundário se tornaram licenciados. “Mas o mesmo acontece nos dias de hoje, quando a desaceleração na educação a vários níveis está a roubar à América a capacidade para crescer”, argumentam os investigadores.

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