Análise

Serão os jovens capazes de resolver problemas de forma criativa?

por EDULOG


6 de abril de 2017 |

Estão os jovens de hoje a adquirir competências para o século XXI? A pergunta orientou a avaliação do PISA 2012 que analisou a capacidade dos alunos de 15 anos para a arranjar soluções e raciocinar fora das aprendizagens escolares.

Nos países e economias cujos alunos alcançam melhores resultados na resolução criativa de problemas verifica-se que as aprendizagens não se cingem ao currículo essencial. Os alunos também aprendem a como transformar problemas da vida real em oportunidades de aprendizagem - arranjando soluções criativas e raciocinando fora do contexto escolar. O PISA 2012 analisou a capacidade dos alunos para resolver problemas. Os “testes” foram realizados em computador por cerca de 85 mil alunos, dispersos por 44 países e economias parceiras. Os resultados mostram que os professores e as escolas podem encorajar a capacidade dos alunos para resolver os problemas do século XXI.

Para obter bons resultados na primeira avaliação realizada pelo PISA à competência criativa de resolução de problemas, os alunos precisaram de estar recetivos à novidade, tolerar a dúvida e a incerteza, e atrever-se a usar a intuição para iniciar uma solução. O sucesso nos resultados às disciplinas curriculares não garante que o jovem seja capaz de resolver problemas, diz a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Na Austrália, Brasil, Itália, Japão, Coreia, Macau-China, Sérvia, Inglaterra (Reino Unido) e nos Estados Unidos, os alunos obtêm resultados significativamente melhores ao nível da resolução de problemas, do que os estudantes de outros países com iguais classificações em leitura, matemática e ciência.

Muitos dos melhores desempenhos na resolução de problemas surgem em países e economias asiáticas. Estes alunos demonstram elevada capacidade de raciocínio e autoaprendizagem. Comparados a estudantes com o mesmo desempenho geral, os alunos do Brasil, Irlanda, Coreia e Estados Unidos mostram mais competência para a resolução de problemas interativos que exigem a recolha de Informações úteis, a exploração do contexto do problema e um retorno sobre o efeito das suas ações.

“A vida é uma resolução de problemas”

“Nas sociedades modernas, toda a vida é uma resolução de problemas”, diz a OCDE. No relatório “Serão os jovens de 15 anos capazes de resolver problemas de forma criativa?”, que focou as competências dos alunos para o século XXI, a organização lembra ainda que: “Adaptar, aprender, ousar experimentar coisas novas e estar sempre pronto para aprender com os erros são [competências] essenciais para ter resiliência e sucesso num mundo imprevisível.”

Estão os jovens de hoje a adquirir as competências de resolução para o século XXI? Foi a pergunta que orientou esta avaliação. Os resultados mostram que os estudantes na Coreia, seguidos pelos colegas do Japão, conseguem as melhores pontuações em matéria de resolução de problemas. Quatro parceiros do leste asiático situam-se entre o 4.º e o 7.º lugar: Macau-China, Hong Kong-China, Xangai-China e Taipé Chinês (em ordem decrescente de pontuações médias). Canadá, Austrália, Finlândia, Inglaterra (Reino Unido), Estónia, França, Países Baixos, Itália, República Checa, Alemanha, Estados Unidos da América e Bélgica (em ordem decrescente de pontuações médias) conseguem classificações acima da média da OCDE, mas abaixo do primeiro grupo de países.

Nos dois países com melhor desempenho – Coreia e Singapura – os alunos de 15 anos de idade são capazes de resolver problemas moderadamente complexos de uma forma sistemática. Por exemplo, 56% dos estudantes na Coreia e Singapura, mas apenas 31% dos estudantes nos países da OCDE, em média, conseguem usar um dispositivo desconhecido que está a funcionar mal (uma tarefa de nível 4 na escala de 1 a 5 de proficiência PISA).

Alunos que atingem o nível 4 de proficiência na resolução de problemas entendem os elos de ligação entre os elementos do problema; conseguem planear alguns passos à frente e ajustar os seus planos à luz do retorno que recebem; conseguem formar uma hipótese sobre a razão do mau funcionamento do dispositivo e fazer uma descrição de como o testar.

Pelo contrário, nos países com os piores desempenhos, mais de 50% dos alunos só conseguem resolver problemas muito simples. Que não os obrigam a pensar mais à frente e que são formulados em configurações familiares. Por exemplo, conseguem determinar através de tentativa e erro qual a solução - entre um conjunto limitado de alternativas - que melhor se adequa a um único problema (tarefa de nível 1 na escala de proficiência).

No Japão e na Coreia, apenas 7% dos alunos pontua abaixo do nível 2. O PISA revela que mesmo nos países com melhores desempenhos, um número significativo de jovens de 15 anos não é capaz de resolver problemas básicos. No entanto, alerta a OCDE, trata-se de “uma competência considerada necessária para ter sucesso no mundo de hoje e muito mais no de amanhã”.

A organização internacional diz também que “é de esperar que os países e economias com melhores desempenhos ao nível da resolução de problemas estejam melhor preparados para a aquisição de conhecimentos e execução de tarefas que exigem elevado nível de raciocínio e aprendizagem autodirecionada”.

Professores podem fazer a diferença

Os resultados mostram que os currículos escolares - e os professores – podem fazer a diferença quando se trata de ensinar aos alunos competências ao nível da resolução de problemas.

Os estudantes que conseguem boas classificações a matemática, leitura e ciência tendem a mostrar um forte desempenho na resolução de problemas desconhecidos ou fora do contexto das disciplinas escolares. São ainda melhores a desenvolver representações mentais de situações problemáticas, a planear com antecedência e de forma focalizada, a mostrar flexibilidade na incorporação do retorno que lhes é dado e a refletir sobre os problemas e sua solução.

Do mesmo modo, esses países são os que melhor preparam os seus alunos para usarem o conhecimento em contextos da vida real. São também aqueles em que os alunos estão mais à vontade com os processos cognitivos necessários para resolver problemas. Como, por exemplo, interagir com dispositivos tecnológicos desconhecidos.

No entanto, entre os alunos ou entre os sistemas educativos, o desempenho na resolução de problemas não é idêntico ao desempenho escolar. Na Austrália, Brasil, Itália, Japão, Coreia, Macau-China, Sérvia, Inglaterra (Reino Unido) e nos Estados Unidos, os alunos pontuam melhor na resolução de problemas do que os colegas de países com desempenhos semelhantes aos seus em matemática, leitura e ciência.

A OCDE alerta ainda para a necessidade de analisar as prestações gerais dos alunos e as obtidas especificamente na resolução de problemas. Assim, “nos países com elevado desempenho geral, um desempenho mais forte do que o esperado na resolução de problemas pode significar que esses países conseguem fornecer oportunidades de aprendizagem que preparam os alunos particularmente bem para lidar com problemas complexos e reais em contextos que geralmente não encontram na escola”.

Por outro lado, “nos países com baixo desempenho geral, um desempenho mais forte em matéria de resolução de problemas pode indicar que esses países não aproveitam ao máximo o potencial dos alunos nas disciplinas escolares”.

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